domingo, 5 de julho de 2009

Cochilo

Os Comedores de Batata - Vicent Van Gogh


Muito pode acontecer no inteiro de um cochilo. Ontem, dormi por uns cinco minutos e tive um sonho onde se passaram duas horas.

Não sei, mas acho esse tipo de coisa fascinante.



Cochilo

O único som a que me presto é o do ar.
Sei que folhas são passadas
(alguém rasga e fala num canto)
que pensamentos, de tão concentrados
produzem som.

É verde o quadro negro de números,
a frente são feições apáticas, noturnas
que não sabem se oram pelo dia seguinte
ou pela cama quente de cada dia - um presépio.

Um céu negro - lá fora
reclama por minha atenção.

Os ansiosos cochicham
os silenciosos dormem.
Eu, que sou este véu
estes vermes que rastejam,
sendo tudo num grão de areia,
sendo pouco enquanto mar.

Mas, não sendo maior que qualquer canto
ou mais que esta vertigem que me engole,
o olhar esnobe, a bexiga cheia.
No abismo, sou devaneio - incoerência,
um sonho sonhando em ser acordado,
nesta noite que não passa.


_Fabrício de Queiroz Venâncio