sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Zumbido

O Pesadelo - John Henry Fuseli



Zumbido

Escrevia

Procurava um sentido em meio
a tantos sentimentos;
Lançava à folha idéias tortas
em códigos,
Para depois desvendá-los...
E veio o zumbido.

Primeiro as idéias fugiram,
Os sentimentos se foram,
Só restou o zumbido.
Procurei aflito pelos cantos
– Mas que zumbido é esse,
que me desconcentra,
me faz amassar o papel,
que causa esse espanto?

Removi a poltrona do lugar,
A TV da estante,
A estante do chão,
O chão foi varrido
(Para ver se encontrava o verme camuflado)
Passado e enxugado.
Ainda assim, ouvia-se o zumbido.

A verdade é que não sabia do que se tratava:
Se era rato ou mosquito,
Garoto ou grunhido,
Se era chiado ou interferência.

Apossei-me do costume
de tudo como verme adjetivar,
De verme lhe classificava,
(praguejava no escuro)
Amaldiçoava o zumbido de nenhum lugar.
Ainda assim persistia, irritava.

Fui para a sala, voltei ao quarto;
Para a cozinha, para a sala...
Suava.
Coloquei som no alto
Cantei como louco, gaiteava
E já até chorava,
Pois o zumbido não sumia.

– Oh! Maldito zumbido de nenhum lugar,
Escuta as minhas súplicas,
Não abra mais as feridas
(já quase supuradas);
Levante de onde estiveres:
Não percebes que já me faz sofrer
tão suficiente quanto os anos?

(Será este zumbido um apelo da consciência?
Um paradoxo à eficiência dos sentimentos?
Uma resposta às idéias tortas?)

Então, num surto, decidi:
– Se é para viver com este zumbido,
se é para na intranqüilidade caminhar,
então levo a vida:
apago o zumbido.

De arma apontada,
Contra a vida tentei...
De olhos abertos me vi:
A página deitada sobre o colo,
A caneta caída pelo chão.

– Será que foi sonho ou zumbido?
ou será que não aconteceu?

_Fabrício de Queiroz Venâncio