domingo, 3 de outubro de 2010

O rosto (ou a Balada sem ritmo algum)

Natureza Morta com Absinto - Vicent Van Gogh


A velhice é muito bonita. Para os velhos parece que o tempo passa diferente, ficando essa sensação impressa no modo calmo como se movem, como falam e se organizam dentro do seu tempo.

Pode ser também que já estejam no aguardo da morte, praticando serenamente a única coisa que lhes resta: as lembranças e os amigos.



O rosto (ou a Balada sem ritmo algum)

A poeira dos carros encharca as
rugas virgens do rosto,
um olhar lânguido de miopia e carne
atenta na paisagem a sua morte.

Tudo lhe parece sinônimo de si:
a palha seca, a sopa podre
e a gia suada emborcada.

Na cidade o povo canta,
os carros passam e ninguém sorri;
numa ausência que se mistura à poeira
que levanta e mela o rosto.

Tudo já lhe é passado:
os jovens, os velhos
e este calafrio que arrepia a nuca.


_Fabrício de Queiroz Venâncio