Posso lembrar a vida pelas paredes. Recordo duma branca pontilhada de vermelho, acerolas arremessadas em brincadeiras infantis. Já tive um quarto verde, a cor do meu time. Já tive um quarto cinza, época de funestas artes mágicas. Paredes brancas, com a marca do meu suor em vários pontos do ambiente. Hoje tenho uma rosa, que já encontrei assim.
Em todos os casos me acompanha uma xícara de café e um lápis ansioso por marcar a página branca e dizer: "ainda estou aqui".
Modernidade
Contradisse a felicidade em
todos os milímetros da existência.
Com as ausências, foi especialista
em lidar e dizem que nunca chorou.
Achou fôlego no conturbado
da vida para amar,
mas nunca se deixou livre,
despencando com os céus no horizonte.
Sobre as rimas disse pouco
e só os familiares irão lembrar.
Escreveu o nome do seu amor
numa fotografia que jaz, desbotada.
Viveu das incertezas, mas nunca
abriu mão das intensidades.
Resistiu incólume ao álbum da vida
e partiu sem dizer obrigado.
(Fabrício de Queiroz)