domingo, 20 de julho de 2014

Impressão

Nômades Amantes do Tempo - Bruno Steinbach


Para aquele gostar, constantemente a beira da explosão e que se renova a cada segundo.



Impressão
                                     KP

Em mim, os teus cheiros;
tatuados nos polegares,
circunscrito nas articulações.
Nenhum Domingo seria o mesmo.

No quarto, as tuas impressões;
o lençol borrado de suor,
teu desenho preso num canto.
No varal, símbolos da indecência.

A cidade implora tua presença,
o meu corpo chora sua ausência.
Na medida em que tudo me lembra você,
nada pode ser legitimamente meu.

Mas meu bem, não fiquemos tristes:
logo vamos nos encontrar na mansidão,
naquele sonho somente nosso,
naquele toque digital do nosso gostar.

(Fabrício de Queiroz)

terça-feira, 15 de julho de 2014

Consumação

Carcaça bovina - Chaim Soutine


"Um homem feliz é aquele que durante o dia, devido ao seu trabalho, e à noite, devido ao seu cansaço, não tem tempo para pensar em suas coisas." (Gary Cooper)



Consumação

Ao meu enterro irão as prostitutas.
As velas serão velhos sacos de supermercado,
a sobremesa será servida aos urubus,
que partirão fartos.

O velho padre foi embora há tempos,
restaram os oprimidos e os silenciosos,
os covardes e os criminosos,
que permanecem saciados na amplidão.

O caixão não será de cedro,
mas das caixas de feira,
cujas frutas podres
alimentarão os porcos.

Consumado e extinto,
alimentarei um forno
enferrujado e partirei,
às cinzas.

(Fabrício de Queiroz)

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Copa

Dano à propriedade - João Werner


Não consigo comemorar 150.000 remoções e 9 mortes.



Copa

Ainda não fiz um poema para este mês,
Julho me esqueceu e os seus dedos não são de lã.

Nenhuma aurora me saudou à sua perfeição,
minhas sandálias envelhecidas
denunciam o descuido de mim.

Fã do futebol, não há glória na bola rolando,
ou nos trabalhadores que morreram amassados
pelo viés de sua construção,

ou nas famílias que choram
os tijolos derrubados.

Cansado da cidade - carregada de idiomas em suas areias,
poluída pela convenção do absurdo,
anestesiada em verde e amarelo - caminho só,

como se Julho tivesse me arrancado das convenções,
punido meu sorriso reticente com um forçado
contrato de esquecimento e solidão.

(Fabrício de Queiroz)