quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Formigas no teto

Imagem ambivalente - Salvador Dalí


Essa imagem me tocou profundamente, tanto que consegui terminar esse poema que já estava há tempos na gaveta.

Acho que demorei de dar um "pronto" neste porque sabia que iria gostar do resultado. Saiu de um pensamento recuperado numa distração, vejam, é muito importante conseguir "capturar" idéias que somente nos acontecem quando nos distraímos, quando estamos de "saco de cheio"... No meu caso, parece que a capacidade de fazer relações se amplia.

Bem, mas coisas felizes as vezes não saem de uma distração diante da tristeza.



Formigas no teto

Faz pouco sentido enquanto espero
a música ainda toca triste, baixo
os amigos estão na sala, sorrindo
estamos indo em silêncio
e nosso choro não pode ser escutado.

Enlouquecemos mas somos ignorantes,
no nosso jogo só existem dois.
No formigueiro brincamos de ciranda,
chamamos de belo o perigoso
de desejo o que é costume.

Pensamos e sorrimos ao mundo,
Somos sebosos e é suja nossa fé,
nosso respiro é gorduroso:
só no cochilo há o alívio,
só na parede a distração.

Não somos mais que este quarto,
Este odor de cigarro abafado,
esta porta de ferro fechada:
Sua ferrugem é o nosso carisma
e nossa canção está no teto.

As formigas caminham,
concentram a nossa atenção.
A tela se apaga pelo desuso,
o banho quente cessa.
E o silêncio, lentamente, nos sufoca.


_Fabrício de Queiroz Venâncio