domingo, 15 de agosto de 2010

O delir

A queda de Faetonte - Johann Liss


Quando já não consigo escutar o som através da parede, recordo com remorso.



O delir

Joga de volta estas flores que te dei:
vindas de tua mão se desmanchará,
terá seu sumo extraído
e chegará a mim como perfume.

Devolve aquele colar vindo do mar,
pois é o seu artesão capaz de engoli-lo,
para se desmanchar novamente em areia
e fazer cemitério de novos corais.

Daquele bombom e daquele transpiro de sexo,
faz um emplasto em molde de concha
e torna a ver o milagre da fruta,
adocicando o desejo de outros.

Tuas lágrimas deixa cair que eu recolho:
guardarei num pote âmbar
para eternizar essa penitência salina
e louvá-las em arrependimento,

mas posso também derreá-las no deserto,
para vê-lo então verde e florido:
semearia no vertigo estas flores
e lhe faria brilhar nova coroa.


_Fabrício de Queiroz Venâncio