quarta-feira, 22 de abril de 2009

Indulgência

A Primeira Bailarina - Edgar Degas


A antiga Santa Igreja já cobrou a redenção de muitos. O que será que acontecia quando morriam?

Dançavam como os primeiros que atingiam os céus ou choravam por acreditarem falsamente no inferno?

Ou só havia escuridão?



Indulgência

O relógio é um troféu na parede
não percebo o sangue no chão.
O coração de pedra não avisa o quão estou só,
meus pés, secos, anseiam pelo calor;
o corpo frio, emborcado, então me esquece.

Meu sorriso é amarelo,
minhas palavras estão em combustão,
não sou diálogo nem Verbo,
Não soletro e nem refaço
e minha mão já não acaricia.

Chora, criança tola:
a culpa da ignorância é paga pelos dias,
tuas mãos são o chacal
e o tempo a tua gangorra.

E continua duvidando,
cria o limo sob teus pés,
resseca a estática em teus ossos,
empala a mente com tuas lágrimas.

Pensa que sabe
e deságua em tua ignorância:
criança, nem todo verso tem rima,
nem toda canção fala de amor.


_Fabrício de Queiroz Venâncio

sábado, 11 de abril de 2009

Sereno

Impressão, Nascer do Sol - Claude Monet


As vezes é triste esperar o dia passar. Esperamos a noite em expectativa e nos agarramos ao fio de esperança da chegada do lençol noturno. Enquanto passa o tempo persistimos em receber o abraço da solidão, que tomamos como companhia.



Sereno

Ainda é dia na solidão do verso
solicito o doce colo da caveira

Desbotadas estão as minhas pêras
que secas lascaram-se na pedra.

É noite na vastidão das palavras
olho o céu no consolo tumular

Caído, aguardo no silêncio
do meu rosto machucado.


_Fabrício de Queiroz Venâncio

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Fim de festa

A Mulher Bêbada - Jan Steen


Não, não estou com preguiça de escrever. Ao menos não é preguiça, é a letargia que vem depois de uma crise ou de um fim.



Fim de festa

Odor de tabaco no ar e nos cantos;
o cigarro apagado, o cinzeiro emborcado.
Não é fim de Quaresma, ou São João;

no chão, o esperma:
corpos dormentes do cansaço.
Eu, em algum vão embriagado,
troco tudo, erro paredes.

Esqueço, é fim de festa.


_Fabrício de Queiroz Venâncio