sábado, 26 de novembro de 2011

Embriaguez

Suzanne Valadon - Toulouse-Lautrec


Ela tinha vermelho no cabelo e minha cor favorita era o violeta. Racionalizei a situação recordando que o vermelho e o violeta são os extremos do espectro visível. Pude amar.

Como o vermelho e o violeta, opostos, nunca nos encontrávamos. O vermelho e o violeta não se misturam: não podia sequer idealizar esse amor. Essas cores têm diferentes sintonias: não tinha o luxo de saber como seria se alguma coisa fosse. Entre o extremo e o paralelo repousava um sentimento que não entendia. Minha razão balançava.

Pergunta feita e não respondida, resolvi afogá-la num tsunami de vodca e acordei com um fio vermelho sobre o peito.



Embriaguez

O gole de hoje é em sua homenagem.
O brinde de ontem, um drink,
tornou-se o copo vazio sobre a mesa
e o teu nome está escrito na garrafa.

É passada a vodca e ainda bebo.
O frio do vidro machuca a boca:
cansada, substitui o beijo tardio.

As bexigas coloridas murcharam
no silêncio sem ar de uma espera.
Salgado ficou o álcool pelos
olhos pesados da insônia.

Meu corpo é assim, véspera permanente:
sozinho, responde aos teus delírios
e aguarda uma carícia tola de embriaguez.


_Fabrício de Queiroz Venâncio

domingo, 13 de novembro de 2011

Liberdade

Na Luxúria, preste atenção - Jan Steen


Sentado por duas horas em uma praça, tomando sorvete e olhando crianças correndo de Kart, conheci a história da vida de três pessoas.

Um pouco mais tarde assisti "Leaves of Grass" e alguns versos de Whitman ficaram em minha cabeça.

Não sei ao certo de onde veio a inspiração. Cuspi esse poema.



Liberdade

"Que pode haver de maior ou menor que um toque?"
(Walt Whitman)


Rompi minha casca de cetim,
a membrana foi embora
na ponta de uma agulha,
rasgou-se em filamentos ímpares
e me vestiu em véu.

Estou livre de uma pele embrutecida,
uma casca morta, uma casca fina.
Peleja que afibrantava o corpo tatuado
tornou-se véu: vou vesti-la e
seduzir com lavagem as minhas porcas.

Vou vesti-la e correr nu pelo campo
com minha seringa em punho,
espalhando meu aroma de resto
e perfurando estas cascas ancestrais.


_Fabrício de Queiroz Venâncio