sábado, 30 de maio de 2009

Gota

A tentação de Santo Antônio - Salvador Dalí


Um poema feito em parceria com meu amigo e poeta Lucas Matos, visitem seu blog (ao lado) e confiram a qualidade dos seus versos.



Gota

Não há terra sob este beiral,
não há sementes para o plantio.
Do animal, ficou o esqueleto,
da estrada, sobrou o pó.

Da fenda o leito observa,
seco rio, dura estrada
arada a terra se partiu
e de uma semente fez-se o plantio.

Há algo entre o fosso e o poço
e não é o frio de uma senzala
nem o odor do fio da navalha:
é um ponto verde insurgente.

E deste único ponto
o solo se faz úmido;
fertilizado, ainda há esperança:
pode do broto surgir o matagal.

Afinal,
toda árvore um dia foi o sonho duma semente.


Fabrício de Queiroz Venâncio & Lucas Matos

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Enquanto espero

O Sonho de Jacob - Marc Chagall


É difícil ser um estudante de ciências e conviver com os outros ao mesmo tempo. Queremos equacionar as relações, fazer levantamento de dados e, quando nos damos conta, depois de pesar prós e contras, percebe-se que esquecemos o sentimento.

Estava olhando e, de modo geral, os poemas deste blog tratam em sua maioria da solidão ou da saudade... Também me impressiono muito com os poemas que carregam essa temática. Mas só digo isso porque é outra coisa que estou tentando entender: as minhas inspirações. Acho bonito os que dizem que olham a chuva e escrevem sobre ela, olham o mar e sentem suas ondas... Na maioria das vezes estes entes carregam a temática da solidão e da saudade em suas águas.

Veja, não acho que minhas linhas sejam um reflexo exato de mim, sou bastante feliz! A idéia que defendo (tenho que defender alguma) é que cada um sente-se bem escrevendo sobre determinado tema e que este tema pode ser alterado no decorrer da vida, como se o poema fosse um despejo reconfortante.

Esses versos pretendem tratar de uma saudade não letárgica.



Enquanto espero

Saudade e pele tenho como companhia,
mas tenho também a lembrança
da forma do corpo passeando,
do cheiro que está em todo ar.

O tempo passa em letargia - inexpresso.
Pressionei o forro do sentimento
e quero me deitar, sozinho:
sonhar a noite inteira com teus lábios.

O aroma no lençol não deixa dormir,
tudo que toco é seu,
parede, travesseiro... Meu tato:
arranho-me por inteiro.

Há uma assinatura em cada foto,
estou calado, arrependido e cansado;
meus pés estão fora da cama,
meu corpo está frio e não posso te abraçar.

Agora, um fósforo me traz a lembrança:
morro e não estou em seu colo.


_Fabrício de Queiroz Venâncio

terça-feira, 5 de maio de 2009

Como caem as pétalas

Nenúfares - Claude Monet


Depois é que conseguimos perceber o quanto era belo aquilo que não apreciamos.



Como caem as pétalas

As flores já murcharam em meu jardim;
Copo-de-leite cedeu à brisa
matutina invernal, penderam
Do cravo ao jasmim.

Girassóis já não brilharão
sob a luz da lua,
Duendes já não esconderão seus potes de ouro
nos findos arco-íris sobre a grama.

Somente a estranha flor permanece de pé
Desafiando este tempo glacial,
Sofrendo e soando sob estes beirais;
Já pálida, esquece-se da fraqueza das pernas.

Transpiram as janelas: faz frio lá fora.
No inverno, a sorte não afunda sementes.
Onde não posso volver a terra com uma colher,
E não posso livrar minhas flores da morte.


_Fabrício de Queiroz Venâncio