segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Novembro

O café de Edward Hopper - Zack Thurmond



Novembro

Novembro nos alcançou
com os dedos longos
e os seus ares de fim.

Chegou para lembrar que passamos,
que amanhã seremos
como a poeira de Outubro
que assenta sobre os retratos.

Chegou para dar pressa ao futuro,
rarear os cabelos,
enfraquecer os ossos,
deixar vulnerável o coração.

Novembro chegou para ressignificar
o tempo,
refazer os laços,
destruir qualquer vestígio de ego.

Chegou para que possamos
pedir desculpas,
alargar as distâncias,
nos derramar em solidão.

Este Novembro intruso,
que não se importa com as cascas,
abre a porta do porão
e nos mostra o destino:

uma fração das peças velhas,
algumas velas queimadas
e um perfume que enfraquece;
mais uma centelha que se apaga.

(Fabrício de Queiroz)