quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

O quarto, a febre e a praça

Homem velho em tristeza - Vicent Van Gogh


Passou. E passou rápido.

As lágrimas escorrem devagar pelo rosto machucado.



O quarto, a febre e a praça

Eu não preciso de ninguém.
Este caderno me basta.
Este quarto de paredes tortas
com uma xícara de café vazia.
Este anteparo que sustenta minha cabeça.

Só preciso deste travesseiro
que recolheu o suor dos tempos - não lavo:
aqui repousa o suor das minhas musas.

Eu não preciso de ninguém.
Deixe a pólo branca suja de vinho.
Eu mesmo lavo para afogar em espuma branca
esta lembrança de outrora.

Não preciso nem quando estou ardendo em febre
em meio a pílulas brancas.
Nem quando estou a beira do abismo
com uma foice a marcar a minha garganta.

Eu não preciso de ninguém.
Só deste silêncio
varado por um ventilador empoeirado.

Só deste silêncio.
E desta pulsação na garganta
que encoraja o suicídio:
vou cortá-la.

E quando me sinto só, raras vezes,
vou ao parque e brinco de gangorra.


_Fabrício de Queiroz Venâncio