domingo, 21 de julho de 2013

Susto (ou tudo num só)

Loucura - Maurice Utrillo


Ato involuntário, prendemos a respiração tanto no susto quanto na admiração.



Susto (ou tudo num só)

Só uma confusão de letras,
um abismo intransponível
na beira de um matagal
afogado pela fuligem do tempo,

sufocado pelo pó,
amarrado pelo pé
e vencido pelo ritmo
afoito das canções arredias.

Por sanguessugas invadido
e lobotomizado por inversos
arredios, banalizado pelo trunfo
da última carta na manga,

durante a última jogada
de uma pequena vida,
medida numa fita de costura
e equilibrada no fio de uma faca.

_Fabrício de Queiroz Venâncio

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Obrigado pelo seu tempo

Toda riqueza provém da violência - João Werner


Mostre o seu sorriso que lhe vendo meus porcos e cavalos.



Obrigado pelo seu tempo

A violência está acomodada nos hospitais,
nas longas filas da espera
e no pouco que ainda versa a esperança
cristalizada em barrigas vazias.

A violência está velada nas fábricas,
está junto daqueles que assinam suas digitais,
nas doenças de esforço da mão
e na idenização que recebe a família.

Está na desigualdade,
nas generalizações,
na mídia porca,
no vagabundo pedinte
e na criança que esfarela o chão.

Está sendo velada pelos garotos de rua,
idolatrada pelos paletós da nação,
lambida pelos que tem fome.

Nossos meninos gritam nas ruas:
talvez um dia encontrem a violência
amedrontada em um canto qualquer.

Nossas meninas gritam nas ruas
e isto não foi um poema.

_Fabrício de Queiroz Venâncio