sexta-feira, 23 de maio de 2014

Indizível

Freshness of cold - Leonid Afremov


Não. Eu não me vendi aos seus abraços. A estes me doei livremente, gratuitamente. Se paguei por algo, foram as notas da saudade cotidiana, cuja pequena amostra está rabiscada em poesia.



Indizível
                                          para Karol

Vestido de uma pele de cores indizíveis
carrego seu nome num altar.
Esforço-me para traduzir esta saudade
sem fundamento - esperança arqueada

em razões já passadas. Esqueci
da felicidade que batia na porta
triste, em minha cama de
feltro e cetim vermelho.

De todas as respostas, só tua mão
me encontrou na escuridão,
só teu apego a tudo que
fosse intenso - e espontâneo.

Espero que não vá embora.
Que esta continue sendo a nossa
porta, e que se abra para o horizonte
de nossos desejos comuns,

que se abra para aquelas coisas indizíveis,
que façamos do inexplicável o nosso hino
e que mandemos tudo às traças
com o aperto do nosso abraço...

(Fabrício de Queiroz)