quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Arqueologia do cotidiano

Sem título - Pawel Kuczynski


Quando desistir é tão forte quanto existir.



Arqueologia do cotidiano

Os braços cansados cruzados sobre o corpo dizem algo sobre o infinito.
Os versos incompletos reclusos em gavetas são uma afirmação tácita da memória.
O exercício de todos os dias da rotina dos passos não tratam do fundamental.
A cadeira vazia empoeirada do quarto espera sentada.

Ninguém disse nada sobre o efeito do tempo na caminhada.
A serenata foi tocada só uma vez, o troféu nunca foi dado.
O corpo molhado aguarda estremecendo sobre a grama,
que aguarda o outono para se render ao infinito.

Na ansiedade dos dias dizer nunca é suficiente.
Ninguém grita mais, agora se escreve.
Tudo deixou de significar tudo,
há uma miríade de absurdos que distribui conceitos.

A falta do bom dia deve significar algo na selvageria das antenas.
A fartura de silêncios diz muito sobre o que deveria ser.
A ausência dos sonhos se manifesta no paulatino silêncio dos amanhãs.
O copo vazio é uma piscina cheia para a solidão.

(Fabrício de Queiroz)