Manifestação - Antonio Berni
Todos os dias uma de nossas bocas é silenciada, mas acendemos outras mil. Todos os dias tentam nos convencer da utopia de nossa luta, mas nos sustentamos na inevitabilidade da vitória. Conosco é assim: a cada cabeça baixa, dez mãos nos amparam o queixo; a cada sinal de fadiga alguém liga o rádio, escutamos o hino e retornamos revigorados.
Camaradas
Hoje mais do que nunca é pela
geração futura que lutamos.
pelos que estão no colo e nas barrigas
que levantamos nossa bandeira vermelha
e mantemos nosso punho em riste.
Pela certeza da vitória que conferenciamos
aos camaradas sobre o nosso fervor;
que não se trata de fé,
mas de concreto trabalho que assenta
o mundo com o lençol da esperança.
É no sorriso das crianças que mantemos
nossas fibras imperturbáveis, inabaláveis.
No companheirismo das camaradas
que aprendemos que o egoísmo não é lei;
no seu fervor militante é que nos formamos gente
e nos surpreendemos felizes.
À tarefa que se mostra árdua
a toda dor silencia:
seguimos viagem a passos de gigante
e nossa principal virtude não é o heroísmo,
mas a camaradagem.
(Fabrício de Queiroz)
segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
sábado, 29 de novembro de 2014
Sossego
Domingo - Edward Hopper
Meu pescoço já se curva como o dos mais velhos. Já não tenho memória, nem filhos.
Sossego
Um pouco de mim ficou nesta sala.
O sorriso na fotografia desbotada,
a peça de porcelana que brinca
ao lado do aquário das aranhas,
o fungo brotando das quinas
e este odor permanente de mar.
De mim ficaram as lições,
os manuscritos inacabados,
um armário cheio de pequenos prazeres:
postais, miniaturas e outras criancices;
conchinhas de várias praias do mundo
e um poema de Sosígenes lido para todos os mares.
De mim certamente lembrarão da tosse,
dos remédios vencidos na gaveta
que por teimosia não tomei,
da saudade dos lugares que fui,
da insistência no belo
e da persistência no impossível.
(Fabrício de Queiroz)
Meu pescoço já se curva como o dos mais velhos. Já não tenho memória, nem filhos.
Sossego
Um pouco de mim ficou nesta sala.
O sorriso na fotografia desbotada,
a peça de porcelana que brinca
ao lado do aquário das aranhas,
o fungo brotando das quinas
e este odor permanente de mar.
De mim ficaram as lições,
os manuscritos inacabados,
um armário cheio de pequenos prazeres:
postais, miniaturas e outras criancices;
conchinhas de várias praias do mundo
e um poema de Sosígenes lido para todos os mares.
De mim certamente lembrarão da tosse,
dos remédios vencidos na gaveta
que por teimosia não tomei,
da saudade dos lugares que fui,
da insistência no belo
e da persistência no impossível.
(Fabrício de Queiroz)
domingo, 28 de setembro de 2014
Neoliberal
Coleção -Tetsuya Ishida
...
Neoliberal
Pra mim você é lucro.
A roupa que veste
a cama que adoece
os sorrisos
o abraço
e o luto.
Pra mim você é lucro.
A força de trabalho
os seus filhos
a sua esposa
a traição
e até mesmo a doença que lhe causo.
Pra mim você é lucro.
O que você come
o que você fala
o que vê
o que sente
e os seus desejos mais íntimos.
Pra mim você é lucro.
Na educação
na alegria
e na tristeza
no passado
e na ingratidão
o seu pão
a sua mobília
o lixo
o desperdício
o avião
as árvores
as plantas
o fugitivo
as prisões
a sua saúde
o defunto
a terra
a água
o ar
a natureza
e a fé.
Tudo que faz da sua vida
uma vida: pra mim é lucro.
(Fabrício de Queiroz)
...
Neoliberal
Pra mim você é lucro.
A roupa que veste
a cama que adoece
os sorrisos
o abraço
e o luto.
Pra mim você é lucro.
A força de trabalho
os seus filhos
a sua esposa
a traição
e até mesmo a doença que lhe causo.
Pra mim você é lucro.
O que você come
o que você fala
o que vê
o que sente
e os seus desejos mais íntimos.
Pra mim você é lucro.
Na educação
na alegria
e na tristeza
no passado
e na ingratidão
o seu pão
a sua mobília
o lixo
o desperdício
o avião
as árvores
as plantas
o fugitivo
as prisões
a sua saúde
o defunto
a terra
a água
o ar
a natureza
e a fé.
Tudo que faz da sua vida
uma vida: pra mim é lucro.
(Fabrício de Queiroz)
sexta-feira, 12 de setembro de 2014
Descrédito
Sem título - Tetsuya Ishida
As vezes me pergunto se já não estamos vivendo a barbárie.
Descrédito
Desacreditei de tudo,
dos sonhos
dos anos
das conquistas.
Enfim, desacreditei da vida,
das coisas simples
dos abraços
dos sorrisos,
desacreditei até da esperança,
que recebe meu corpo
de braços abertos,
desacreditado na mansidão.
Desacreditei do salário,
da família
da rotina
e - há muito - do capitalismo.
Desacreditei de mim,
dos passos adiante
das siglas
da democracia
do sim
do não
do talvez
e sobretudo das certezas.
Desacreditei dos hinos,
do nacionalismo
do mundialismo
dos votos
e da eleição.
Desacreditei das verdades,
dos conceitos
dos anseios
do Redentor
e da salvação.
Desacreditei das horas vagas,
dos bares
dos amigos
das curas
do companheirismo.
E de tanto desacreditar
estive a beira do suicídio,
mas desacreditei da morte,
do Paraíso.
(Fabrício de Queiroz)
As vezes me pergunto se já não estamos vivendo a barbárie.
Descrédito
Desacreditei de tudo,
dos sonhos
dos anos
das conquistas.
Enfim, desacreditei da vida,
das coisas simples
dos abraços
dos sorrisos,
desacreditei até da esperança,
que recebe meu corpo
de braços abertos,
desacreditado na mansidão.
Desacreditei do salário,
da família
da rotina
e - há muito - do capitalismo.
Desacreditei de mim,
dos passos adiante
das siglas
da democracia
do sim
do não
do talvez
e sobretudo das certezas.
Desacreditei dos hinos,
do nacionalismo
do mundialismo
dos votos
e da eleição.
Desacreditei das verdades,
dos conceitos
dos anseios
do Redentor
e da salvação.
Desacreditei das horas vagas,
dos bares
dos amigos
das curas
do companheirismo.
E de tanto desacreditar
estive a beira do suicídio,
mas desacreditei da morte,
do Paraíso.
(Fabrício de Queiroz)
domingo, 20 de julho de 2014
Impressão
Nômades Amantes do Tempo - Bruno Steinbach
Para aquele gostar, constantemente a beira da explosão e que se renova a cada segundo.
Impressão
KP
Em mim, os teus cheiros;
tatuados nos polegares,
circunscrito nas articulações.
Nenhum Domingo seria o mesmo.
No quarto, as tuas impressões;
o lençol borrado de suor,
teu desenho preso num canto.
No varal, símbolos da indecência.
A cidade implora tua presença,
o meu corpo chora sua ausência.
Na medida em que tudo me lembra você,
nada pode ser legitimamente meu.
Mas meu bem, não fiquemos tristes:
logo vamos nos encontrar na mansidão,
naquele sonho somente nosso,
naquele toque digital do nosso gostar.
(Fabrício de Queiroz)
Para aquele gostar, constantemente a beira da explosão e que se renova a cada segundo.
Impressão
KP
Em mim, os teus cheiros;
tatuados nos polegares,
circunscrito nas articulações.
Nenhum Domingo seria o mesmo.
No quarto, as tuas impressões;
o lençol borrado de suor,
teu desenho preso num canto.
No varal, símbolos da indecência.
A cidade implora tua presença,
o meu corpo chora sua ausência.
Na medida em que tudo me lembra você,
nada pode ser legitimamente meu.
Mas meu bem, não fiquemos tristes:
logo vamos nos encontrar na mansidão,
naquele sonho somente nosso,
naquele toque digital do nosso gostar.
(Fabrício de Queiroz)
terça-feira, 15 de julho de 2014
Consumação
Carcaça bovina - Chaim Soutine
Consumação
Ao meu enterro irão as prostitutas.
As velas serão velhos sacos de supermercado,
a sobremesa será servida aos urubus,
que partirão fartos.
O velho padre foi embora há tempos,
restaram os oprimidos e os silenciosos,
os covardes e os criminosos,
que permanecem saciados na amplidão.
O caixão não será de cedro,
mas das caixas de feira,
cujas frutas podres
alimentarão os porcos.
Consumado e extinto,
alimentarei um forno
enferrujado e partirei,
às cinzas.
(Fabrício de Queiroz)
"Um homem feliz é aquele que durante o dia, devido ao seu trabalho, e à noite, devido ao seu cansaço, não tem tempo para pensar em suas coisas." (Gary Cooper)
Consumação
Ao meu enterro irão as prostitutas.
As velas serão velhos sacos de supermercado,
a sobremesa será servida aos urubus,
que partirão fartos.
O velho padre foi embora há tempos,
restaram os oprimidos e os silenciosos,
os covardes e os criminosos,
que permanecem saciados na amplidão.
O caixão não será de cedro,
mas das caixas de feira,
cujas frutas podres
alimentarão os porcos.
Consumado e extinto,
alimentarei um forno
enferrujado e partirei,
às cinzas.
(Fabrício de Queiroz)
segunda-feira, 7 de julho de 2014
Copa
Dano à propriedade - João Werner
Não consigo comemorar 150.000 remoções e 9 mortes.
Copa
Ainda não fiz um poema para este mês,
Julho me esqueceu e os seus dedos não são de lã.
Nenhuma aurora me saudou à sua perfeição,
minhas sandálias envelhecidas
denunciam o descuido de mim.
Fã do futebol, não há glória na bola rolando,
ou nos trabalhadores que morreram amassados
pelo viés de sua construção,
ou nas famílias que choram
os tijolos derrubados.
Cansado da cidade - carregada de idiomas em suas areias,
poluída pela convenção do absurdo,
anestesiada em verde e amarelo - caminho só,
como se Julho tivesse me arrancado das convenções,
punido meu sorriso reticente com um forçado
contrato de esquecimento e solidão.
(Fabrício de Queiroz)
Não consigo comemorar 150.000 remoções e 9 mortes.
Copa
Ainda não fiz um poema para este mês,
Julho me esqueceu e os seus dedos não são de lã.
Nenhuma aurora me saudou à sua perfeição,
minhas sandálias envelhecidas
denunciam o descuido de mim.
Fã do futebol, não há glória na bola rolando,
ou nos trabalhadores que morreram amassados
pelo viés de sua construção,
ou nas famílias que choram
os tijolos derrubados.
Cansado da cidade - carregada de idiomas em suas areias,
poluída pela convenção do absurdo,
anestesiada em verde e amarelo - caminho só,
como se Julho tivesse me arrancado das convenções,
punido meu sorriso reticente com um forçado
contrato de esquecimento e solidão.
(Fabrício de Queiroz)
domingo, 8 de junho de 2014
Enigmático
Ela se foi - Leonid Afremov
Antes que seja tarde para dizer: saudade.
Enigmático
Nos olhamos longamente pela madrugada,
que ofereceu o seu semblante enigmático.
Enjaulado em seu corpo, suspirei destinos
e lhe aprisionei em meus braços para nunca mais.
Estamos aqui nestes sinais que louvamos,
na saudade que em comum cultivamos
e nos dizemos tanto antes de dormir
- não descansamos nem ao acordar.
Hoje resolvi chorar à sua ausência.
Perscrutar cada polegada de onde esteve
e me imaginar pernoitando em seu corpo
- pleno de riscos e desejos;
como naqueles dias de Maio,
onde nada foi como antes
e me ficou uma ansiedade
castigada de aromas teus.
(Fabrício de Queiroz)
Antes que seja tarde para dizer: saudade.
Enigmático
Nos olhamos longamente pela madrugada,
que ofereceu o seu semblante enigmático.
Enjaulado em seu corpo, suspirei destinos
e lhe aprisionei em meus braços para nunca mais.
Estamos aqui nestes sinais que louvamos,
na saudade que em comum cultivamos
e nos dizemos tanto antes de dormir
- não descansamos nem ao acordar.
Hoje resolvi chorar à sua ausência.
Perscrutar cada polegada de onde esteve
e me imaginar pernoitando em seu corpo
- pleno de riscos e desejos;
como naqueles dias de Maio,
onde nada foi como antes
e me ficou uma ansiedade
castigada de aromas teus.
(Fabrício de Queiroz)
sexta-feira, 23 de maio de 2014
Indizível
Freshness of cold - Leonid Afremov
Não. Eu não me vendi aos seus abraços. A estes me doei livremente, gratuitamente. Se paguei por algo, foram as notas da saudade cotidiana, cuja pequena amostra está rabiscada em poesia.
Indizível
para Karol
Vestido de uma pele de cores indizíveis
carrego seu nome num altar.
Esforço-me para traduzir esta saudade
sem fundamento - esperança arqueada
em razões já passadas. Esqueci
da felicidade que batia na porta
triste, em minha cama de
feltro e cetim vermelho.
De todas as respostas, só tua mão
me encontrou na escuridão,
só teu apego a tudo que
fosse intenso - e espontâneo.
Espero que não vá embora.
Que esta continue sendo a nossa
porta, e que se abra para o horizonte
de nossos desejos comuns,
que se abra para aquelas coisas indizíveis,
que façamos do inexplicável o nosso hino
e que mandemos tudo às traças
com o aperto do nosso abraço...
(Fabrício de Queiroz)
Não. Eu não me vendi aos seus abraços. A estes me doei livremente, gratuitamente. Se paguei por algo, foram as notas da saudade cotidiana, cuja pequena amostra está rabiscada em poesia.
Indizível
para Karol
Vestido de uma pele de cores indizíveis
carrego seu nome num altar.
Esforço-me para traduzir esta saudade
sem fundamento - esperança arqueada
em razões já passadas. Esqueci
da felicidade que batia na porta
triste, em minha cama de
feltro e cetim vermelho.
De todas as respostas, só tua mão
me encontrou na escuridão,
só teu apego a tudo que
fosse intenso - e espontâneo.
Espero que não vá embora.
Que esta continue sendo a nossa
porta, e que se abra para o horizonte
de nossos desejos comuns,
que se abra para aquelas coisas indizíveis,
que façamos do inexplicável o nosso hino
e que mandemos tudo às traças
com o aperto do nosso abraço...
(Fabrício de Queiroz)
domingo, 27 de abril de 2014
Modernidade
Meu Pai no Katz's - Max Ferguson
Modernidade
Contradisse a felicidade em
todos os milímetros da existência.
Com as ausências, foi especialista
em lidar e dizem que nunca chorou.
Achou fôlego no conturbado
da vida para amar,
mas nunca se deixou livre,
despencando com os céus no horizonte.
Sobre as rimas disse pouco
e só os familiares irão lembrar.
Escreveu o nome do seu amor
numa fotografia que jaz, desbotada.
Viveu das incertezas, mas nunca
abriu mão das intensidades.
Resistiu incólume ao álbum da vida
e partiu sem dizer obrigado.
(Fabrício de Queiroz)
Posso lembrar a vida pelas paredes. Recordo duma branca pontilhada de vermelho, acerolas arremessadas em brincadeiras infantis. Já tive um quarto verde, a cor do meu time. Já tive um quarto cinza, época de funestas artes mágicas. Paredes brancas, com a marca do meu suor em vários pontos do ambiente. Hoje tenho uma rosa, que já encontrei assim.
Em todos os casos me acompanha uma xícara de café e um lápis ansioso por marcar a página branca e dizer: "ainda estou aqui".
Modernidade
Contradisse a felicidade em
todos os milímetros da existência.
Com as ausências, foi especialista
em lidar e dizem que nunca chorou.
Achou fôlego no conturbado
da vida para amar,
mas nunca se deixou livre,
despencando com os céus no horizonte.
Sobre as rimas disse pouco
e só os familiares irão lembrar.
Escreveu o nome do seu amor
numa fotografia que jaz, desbotada.
Viveu das incertezas, mas nunca
abriu mão das intensidades.
Resistiu incólume ao álbum da vida
e partiu sem dizer obrigado.
(Fabrício de Queiroz)
domingo, 23 de março de 2014
Efêmero
Más Notícias - Rosalvo Ribeiro
Efêmero
É chegada a hora de devolver
ao tempo o que ele nos deu.
Estender uma bandeja de prata
repleta de cabeças e corações quentes.
Juntar nossos epitáfios aos de parentes
que um dia tanto amamos.
Conformar-se que a sua data não
é mais a do nascimento, mas a de partida.
Um dia acharão seus escritos numa caixa
esquecida em uma casa de praia.
Alguém lhe dedicará alguma lágrima e pronto:
não será de verso que se fará sua memória,
nem lhe dedicarão um feriado colorido.
Você será mais um dentre tantos lutos,
um punhado de ossos que em alguns anos
desocupará o cemitério lotado.
(Fabrício de Queiroz)
Efêmero
É chegada a hora de devolver
ao tempo o que ele nos deu.
Estender uma bandeja de prata
repleta de cabeças e corações quentes.
Juntar nossos epitáfios aos de parentes
que um dia tanto amamos.
Conformar-se que a sua data não
é mais a do nascimento, mas a de partida.
Um dia acharão seus escritos numa caixa
esquecida em uma casa de praia.
Alguém lhe dedicará alguma lágrima e pronto:
não será de verso que se fará sua memória,
nem lhe dedicarão um feriado colorido.
Você será mais um dentre tantos lutos,
um punhado de ossos que em alguns anos
desocupará o cemitério lotado.
(Fabrício de Queiroz)
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014
Todos os culpados do mundo
Tetsuya Ishida
Quando o cansaço febril já não é o bastante.
Todos os culpados do mundo
Ninguém em casa.
Os móveis de madeira
antiga lhe contemplam
e você procura a
resposta em suas
farpas.
Pobre tolo. Afastou-se
da serenidade,
vestiu nu a pele
que lhe deram,
colocou a máscara
sem reclamar,
perdeu a idade
na gaveta.
Nos compartimentos
do lar, implora
por um fiasco
salgado de memória,
para que descubra
quem és
e o que será.
Mas a verdade se esconde
nos detalhes,
nos talheres perdidos,
nas cópias falsas
de si mesmo,
no vidro quebrado no chão,
no sangue espalhado no chão,
e na sua sina,
que descansa no tapete
vermelho.
Queria mais
da vida,
mas a verdade
lhe dói nos poros
sem água,
nas veias oxigenadas
e no silêncio tumular
do seu quarto.
A verdade lhe cutuca
e você não sabe como,
não sabe nada,
não sabe que a vida
lhe pregou uma grande peça
e saiu, sem
fazer barulho.
(Fabrício de Queiroz)
Quando o cansaço febril já não é o bastante.
Todos os culpados do mundo
Ninguém em casa.
Os móveis de madeira
antiga lhe contemplam
e você procura a
resposta em suas
farpas.
Pobre tolo. Afastou-se
da serenidade,
vestiu nu a pele
que lhe deram,
colocou a máscara
sem reclamar,
perdeu a idade
na gaveta.
Nos compartimentos
do lar, implora
por um fiasco
salgado de memória,
para que descubra
quem és
e o que será.
Mas a verdade se esconde
nos detalhes,
nos talheres perdidos,
nas cópias falsas
de si mesmo,
no vidro quebrado no chão,
no sangue espalhado no chão,
e na sua sina,
que descansa no tapete
vermelho.
Queria mais
da vida,
mas a verdade
lhe dói nos poros
sem água,
nas veias oxigenadas
e no silêncio tumular
do seu quarto.
A verdade lhe cutuca
e você não sabe como,
não sabe nada,
não sabe que a vida
lhe pregou uma grande peça
e saiu, sem
fazer barulho.
(Fabrício de Queiroz)
sexta-feira, 10 de janeiro de 2014
Corda
Tristeza do Infinito - Luiz Fernando de Carvalho
Corda
Do bar lhe colocaram pra fora
e é fina a chuva que lhe espera.
Em casa ninguém lhe aguarda,
os vizinhos desistiram de suas
palavras de sabedoria.
Os filhos partiram cedo
nas curvas de uma rodovia
acidentada;
seus amigos lhe aguardam,
os epitáfios sorriem
com suas escrituras
de pranto.
Em casa o bilhete da esposa,
escrito a lápis,
ainda repousa sobre o
criado mudo;
a última garrafa se foi,
e se foram também os sorrisos.
O nó convida do canto
do quarto - a corda descansa.
_Fabrício de Queiroz
Corda
Do bar lhe colocaram pra fora
e é fina a chuva que lhe espera.
Em casa ninguém lhe aguarda,
os vizinhos desistiram de suas
palavras de sabedoria.
Os filhos partiram cedo
nas curvas de uma rodovia
acidentada;
seus amigos lhe aguardam,
os epitáfios sorriem
com suas escrituras
de pranto.
Em casa o bilhete da esposa,
escrito a lápis,
ainda repousa sobre o
criado mudo;
a última garrafa se foi,
e se foram também os sorrisos.
O nó convida do canto
do quarto - a corda descansa.
_Fabrício de Queiroz
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