segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Todos os culpados do mundo

 Tetsuya Ishida


Quando o cansaço febril já não é o bastante.



Todos os culpados do mundo

Ninguém em casa.
Os móveis de madeira
antiga lhe contemplam
e você procura a
resposta em suas
farpas.

Pobre tolo. Afastou-se
da serenidade,
vestiu nu a pele
que lhe deram,
colocou a máscara
sem reclamar,
perdeu a idade
na gaveta.

Nos compartimentos
do lar, implora
por um fiasco
salgado de memória,
para que descubra
quem és
e o que será.

Mas a verdade se esconde
nos detalhes,
nos talheres perdidos,
nas cópias falsas
de si mesmo,
no vidro quebrado no chão,
no sangue espalhado no chão,
e na sua sina,
que descansa no tapete
vermelho.

Queria mais
da vida,
mas a verdade
lhe dói nos poros
sem água,
nas veias oxigenadas
e no silêncio tumular
do seu quarto.

A verdade lhe cutuca
e você não sabe como,
não sabe nada,
não sabe que a vida
lhe pregou uma grande peça
e saiu, sem
fazer barulho.

(Fabrício de Queiroz)

1 Comentários:

Érica Azevedo disse...

Gostei muito, Fabrício!

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