quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Os dedos

Jack Vettriano - O assessor


O livro "Estudos do corpo" (7Letras, 2011) de Alexandre Coutrinho é uma recente e grata surpresa, que pequei em não ter lido antes.

Posso dividir em duas parte. A primeira é erótica e remonta aos desejos e aos atos. São vários fôlegos de uma leitura densa que aperta em caprichos, que convida à visitação das memórias mais íntimas. A segunda é erótica também, mas musical. Fiz a leitura desta seção numa única investida ao livro, escutando jazz do gênero Smooth e parando bastante para pensar. Fiquei lavado por estas sensações.

Ao ler "Eclipse" comecei a escrever um poema, que terminei algum tempo depois.



Os dedos

Para Alexandre Coutinho


De todos os dedos,
o dedo que escorre
entrelaçado de banho quente
e prenhe de vontades.

De todos os corpos,
aquele que beijou
em sabonete - escorre;
derrama o pecado nas coxas.

Idioma dos cabelos,
ervas coloridas;
aroma de tu só
e solos de jazz.

Uma canção gira na
sintonia de nós mesmos:
respiração metamórfica que
vibra, vibra e vibra.


_Fabrício de Queiroz Venâncio

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Estudo da carne

A pele do coelho esfolado - Chaim Soutine


Canibal, começou devorando os dedinhos dos pés. Do pé direito, que não tinha marca de nascença. Seguiu pela carne interna das coxas e se engasgou ao engolir os pêlos finos. Não se importou com os gritos da dor; aos seus ouvidos, soava melodia. Eliminou a gordurinha acumulada na barriga com dentes afiados. Com uma única tacada arrancou um mamilo e fez churrasco de pescoço. Cheiro de carne queimada. A melodia tropeçou no engasgo. Completou a refeição com bochechas e lábios. Cortou o clitóris com a unha e serviu-se empanado.  Na beira da cama, um cabernet sauvignon barato para engolir tudo. Sem tosse.



Estudo da carne

Esperança vã
consolo
temperança.

A princesa descorada
cavalga só
um cavalo manso.

Alfinetadas na bunda
projétil de imensidão.

Saudade só
doença sã.

_Fabrício de Queiroz Venâncio