segunda-feira, 27 de outubro de 2008

As quatro patas do homem

Les Fleus du mau - Marilyn Manson


O mundo está morrendo e estamos atribuindo a culpa a coisas erradas.
É de todo fácil criticar idéias... Mas, eu pergunto: quantas você já teve?
É muito mais fácil atribuir a culpa ao mundo que a uma imperfeição nossa.



As quatro patas do homem


Triste é o amor que se mostra prova

A consciência que releva o fato.

Dizem que amo o mundo

Rego a terra e enterro sementes,

Queimo a carne e como a raiz.


Dizem ainda que calcino o verde

Esquento o meu humilde aposento

e o torno imundo.

Chamo baixinho o companheiro

Pois que mando se afastar

Jogo-o ao lado do meu monturo

Que fiz de casa

Chamei de lar.


Dizem que sou o homem

Aquele das profecias inteligentes

O diligente do racionalismo

Que de tanto pensar

jogar poeira debaixo do tapete

Já não possui mais a pá

Que em um passado longínquo

Iria lhe libertar.


Chamam-me de Ser, mas sou Destruição

Faço a guerra, mato a vida

E ainda ouso me proclamar Senhor

O Grande racional irascível.


Ah, Homem!

Se teu é o mundo

Tuas também são as feridas

Tua também é a culpa.

Ah, Homem.

Se tu és um aracnídeo da fome

Vais tu, leva-te a raça.


_Fabrício de Queiroz Venâncio



quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Prazer, prazer

O Círculo da Luxúria - Willian Blake

Um pouco de um dos nossos principais combustíveis.



Prazer, prazer

Sou um pouco da brisa e da manhã,
Passeio pelas faces, danço pelos ventos
e não concluo nenhum dos meus dias.

Há quem me sinta efêmero,
(como passos de cordeiro)
Quem me faz mal julgamento;
Mas não há quem viva
(e a verdade seja dita)
Sem o toque dos meus dedos.

Sou um pedaço de toda conquista e toda derrota,
Praguejo campos de trigo, eternizo os de batalha
e não há tempo para a glória dos meus feitos.

Salvo os dias mediante amor
(como mãe protegendo a cria)
Rogo ao espírito a força guia
Eternizo escrituras em deleite
(até me fazem versos)
Despejado em folhas macias.


_Fabrício de Queiroz Venâncio

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

O poema que não saiu


O Pequeno Príncipe - Saint Exupéry


São versos rápidos e um tanto tristes, com o tempo dá pra se acostumar. Essa imagem é uma homenagem a quem amo e que me indicou a leitura.




O poema que não saiu

Podia ver seu rosto na brecha da porta
tímido, o brilho do seu olhar era um misto
das idéias e dos rabiscos que permeiam os pensamentos.

(arrisquei um sorriso, temperado
quebrei a cabeça, desenhei um coração
fiz-me de palhaço, alcancei uma noite,)
dois dias,

mas a teimosia não acompanha a inspiração.
Pois o ruim não é que lhe neguem os desejos,
ou que sejam vãs esperanças há muito cultivadas,

o ruim é quando não cativa o cativante,
e não lhe vêm mais do que este olhar brilhante
na brecha da porta, fixo em sua consciência.

No fim, o poema não passa de uma esperança
de uma longa espera ao que não vem
uma mentira contada a si mesmo
várias vezes.

Resta o poema que não acaba, o lápis solto
o olhar que não contêm a si, mas carrega o mundo,
a pulsação que precede o choro.

Para um corpo molhado que espera sob a chuva,
o silêncio é um conforto.


_Fabrício de Queiroz Venâncio