sábado, 26 de novembro de 2011

Embriaguez

Suzanne Valadon - Toulouse-Lautrec


Ela tinha vermelho no cabelo e minha cor favorita era o violeta. Racionalizei a situação recordando que o vermelho e o violeta são os extremos do espectro visível. Pude amar.

Como o vermelho e o violeta, opostos, nunca nos encontrávamos. O vermelho e o violeta não se misturam: não podia sequer idealizar esse amor. Essas cores têm diferentes sintonias: não tinha o luxo de saber como seria se alguma coisa fosse. Entre o extremo e o paralelo repousava um sentimento que não entendia. Minha razão balançava.

Pergunta feita e não respondida, resolvi afogá-la num tsunami de vodca e acordei com um fio vermelho sobre o peito.



Embriaguez

O gole de hoje é em sua homenagem.
O brinde de ontem, um drink,
tornou-se o copo vazio sobre a mesa
e o teu nome está escrito na garrafa.

É passada a vodca e ainda bebo.
O frio do vidro machuca a boca:
cansada, substitui o beijo tardio.

As bexigas coloridas murcharam
no silêncio sem ar de uma espera.
Salgado ficou o álcool pelos
olhos pesados da insônia.

Meu corpo é assim, véspera permanente:
sozinho, responde aos teus delírios
e aguarda uma carícia tola de embriaguez.


_Fabrício de Queiroz Venâncio

2 Comentários:

Lidi disse...

Adorei ver a embriaguez como tema de um belo poema. Muito bom, Fabrício. Bjs

L. J. Y. disse...

Queria saber se realmente acordou com um fio vermelho sobre o peito... essa estória de viajar entre o surreal e real é bem gostosa, principalmente com gosto de álcool , rs

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