Quando já não consigo escutar o som através da parede, recordo com remorso.
O delir
Joga de volta estas flores que te dei:
vindas de tua mão se desmanchará,
terá seu sumo extraído
e chegará a mim como perfume.
Devolve aquele colar vindo do mar,
pois é o seu artesão capaz de engoli-lo,
para se desmanchar novamente em areia
e fazer cemitério de novos corais.
Daquele bombom e daquele transpiro de sexo,
faz um emplasto em molde de concha
e torna a ver o milagre da fruta,
adocicando o desejo de outros.
Tuas lágrimas deixa cair que eu recolho:
guardarei num pote âmbar
para eternizar essa penitência salina
e louvá-las em arrependimento,
mas posso também derreá-las no deserto,
para vê-lo então verde e florido:
semearia no vertigo estas flores
e lhe faria brilhar nova coroa.
_Fabrício de Queiroz Venâncio
7 Comentários:
Esse tocou profundo, trouxe várias sensações, do fundo do meu rio escuro, à tona.
um belo poema, cara
versos recheados com pétalas de pedra e lágrimas fertilizantes
¡hasta luego!
fabrício, simplesmente maravilhoso esse poema. belíssima construção de imagens. e pra mim é inacreditável ler isso agora que acabo de escrever um poema chamado entulho: Quando já não consigo escutar o som através da parede, recordo com remorso.
ps: vou descer mais um pouquinho a página...
é...
é uma boa forma de remover as coisas...
à propósito, uma das melhores coisas em seus poemas, pra mim, é que sempre tenho que ler no mínimo duas vezes ^^
Belas figuras de linguagem.
Às vezes as recordações nos ferem com uma lâmina fria da saudade, e queimam como uma brasa viva... Nesses horas, é bom tomar um café com os amigos.
Incrivelmente superior!
Abraços!
Fica com Deus!
Lucas Matos
Ha ha... esse é com certeza outra coisa... uma que não consigo definir. Mas parece que não "desmancha" no final... reconstitue.
...
ass: ^^ (pi)
p.s.: os comentários são poéticos!! ^^
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