Ajudei a menina com a cicatriz a vestir suas sandálias. Eu gosto de pés. Ela fingiu indiferença à gentileza e eu valorizei o esforço do seu disfarce. Depois de alguns beijos, colocamos nossas máscaras de porcelana e fomos separando nossas mãos bem devagar. Aproveitei para olhar as linhas da sua mão direita e medir o seu e o nosso futuro. O adeus caloroso ficou para as novelas.
Não houve choro. Cada um para o seu lado. O que houve foi um troca de corações pesados em uma bandeja quente.
às mulheres da minha vida
Estes montes são feitos de açúcar.
Estas praias, juro, são doces
e a areia não machuca os pés.
Estes caracóis um dia hão de me enforcar.
Por enquanto conto-os ao som de ondas
ou do vestido branco esquecido sob a lua.
A memória é atiçada por um vento do mar.
A saudade é um corvo de olhos esbugalhados
que corta os vales e me ceifa num abraço.
Estas são as últimas horas de uma mente sã.
Depois do álcool será zumbido, sexo e solidão:
de você sobrarão diversas lacunas de saudade.
Esta será a última despedia da manhã.
Choraremos juntos, irei caminhar na praia
e soluçar todos os seus nomes ao vento.
No futuro perguntarão se ainda te amo.
Sempre esquivo, responderei
que de amar nunca deixamos.
_Fabrício de Queiroz Venâncio
2 Comentários:
lindo.
A despedida,
assim como a saudade,
alimenta a poesia.
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