Meio dia - Edward Hopper
As várias histórias de uma paisagem. As várias paisagens que passamos todos os dias.
Página em branco
Seus pais separaram-se quando tinha quinze;
seus amigos casaram-se com belas senhoras
e o cachorro morreu de tosse.
Num belo dia colorido, a vida lhe passa a página.
Conhecemos a morte e levamos a vida desleixada,
amamos demais o amor verdadeiro e sincero.
Fizemos sexo a níveis industriais
e o peito de nossa mãe há muito está seco.
Nossos sonhos se perderam com a idade,
a caridade foi substituída pela gula.
Nunca há tempo de consertar o mundo
e o "eu" é o único pronome que a vida escreve.
Dentro de casa as pinturas lhe censuram,
as flores murcham e o único odor é o do câncer:
de repente você faz parte dos idosos.
Abre o livro dos dias e passa páginas brancas de saudade,
enquanto, em ondulações, escorre a lágrima
e surge a última alvorada cinzenta.
_Fabrício de Queiroz Venâncio
domingo, 14 de abril de 2013
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2 Comentários:
Houveram dias em que eu acordei no futuro, nesses dias eu só sentia saudade do presente.
Agora que estou inevitavelmente preso no presente a única coisa que sinto é o cansaço. Essa imagem, principalmente essa imagem, me fez lembrar do peso e do dissabor das manhãs.
Para que "o poema mais lírico" se torne "a coisa mais lógica", é preciso ter alguma experiência que faça o diálogo de sentidos. Hoje eu reli esse poema e isso aconteceu. Um beijo, Fá.
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