terça-feira, 4 de novembro de 2008

O Canto da Madrugada

A Estrada da Vida - Hieronymus Bosch


Banalizamos tudo e este ato está na moda, virou algo cultural e precisamos disso para que sejamos aceitos.
Hoje em dia nos assustamos mais com um casal de homossexuais se beijando do que com um mendigo a esmolar.
Observa-se, assusta-se e deixa-se as evidências de lado... Afinal, "a vida continua e tenho que ser o primeiro". Quanta história.



O Canto da Madrugada

Seja de short sujo,
Ou camiseta desfiada.
Na gélida canção da noite,
Ou no silêncio da madrugada.

Sobre calçadas obscuras,
De ladrilhos a brilhar.
Seu tesouro é este espaço,
Que se põe a cuidar.

O momento faz arder os ossos,
Que o frio insiste em desfiar.
A fome que repuxa as tripas.
A fome que revira o olhar.

E então vem A Noite.
Vem a medida do pesar.
Lança-se à madrugada,
Uma voz desamparada a cantar.

Atuando na passarela,
Da ilustre avenida.
Na platéia prostitutas,
E pessoas foragidas.

Duas frases em dó,
E mais duas em ré,
Uma rouca voz de fome,
Um seqüelado corpo de pé.

O canto atende ao corpo,
O corpo cala a fala.
E o verso recém formado,
É apagado com uma bala.

E quem ouviu o menino,
Que ganhava o pão nas esquinas molhadas,
Saboreava o gosto amargo do destino,
E chorava o canto da madrugada?

_Fabrício de Queiroz & Max da Fonseca

4 Comentários:

Bruno_-_-_ ideias do outro eu disse...

Uma realidade tão amarga falada de forma tão doce...
Bom... muito bom!
Nada mais fantástico que ver a maestria que um poeta, que um bom escritor tem para transformar palavras soltas em arte!

Bruna Rocha disse...

Olá!!

Nossa, é uma honra pra mim ser indicada para alguém pelo Max, ali é um talento! Além de ser meu Brotherzão!

Que bom que gostou das minhas coisinhas.. rs..
Fique a vontade pra voltar sempre que quiser!

Gostei muito da ultima estrofe do seu poema!

Abraços...

Rafiki Papio disse...

Eu nem posso imaginar qual a melodia do canto da madrugada..
Sobre o banalizar da vida, eu concordo, e como eu quero me abster der ser um ser pensante, prefiro me banalizar também, e que tudo mais ao meu redor não possa me despertar pra mó de eu ser feliz...

Anônimo disse...

OK, primeiro peço permissão pra não entrar na onda...
digo, é claro que quando lemos versos como estes temos a tendência, humana até, de sentir coisas que não sei nem quero explicar agora, isso nos faz fazer comentários e elogios típicos como vocês devem estar acostumados, então se me estende a palavra gostaria de comentar como um louco dialético, gostaria de literalmente levar estes comentários a discussões, se me permitir eu o farei.
Abraços!

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