terça-feira, 11 de novembro de 2008

Saudade


Pensamentos Distantes - John William Godward


Todo aquele ser racional que já se viu entregue a um sentimento ao qual não tem o menor controle deve entender o digo. Não importa o quanto se lute, quantas distrações sejam oferecidas para a mente... A noite, ao deitar a cabeça no travesseiro, as memórias explodem a sua cabeça e o desejo é presente, potente e indestrutível.

Pode haver a cura no nosso cansaço.

Utilizo a frase de Júlio Cortázar para que tudo seja dito em pouco: "... afinal, o que são as lembranças senão o idioma dos sentimentos?"


Saudade


Sei de pétalas que sentiram menos

a ausência duma flor,

Sei de canções que esqueceram

a voz de um bardo,

Sei de cores que não notaram

a falta do artista hábil,

Sei de versos e belas rimas

que não conheceram a um poeta.


Sei de todos os cantos

cada cadafalso,

Sei de histórias e comédias

homens taciturnos,

Sei de mulheres perdidas

prostitutas arregalia,

Sei de estranhos poderes cantados

num verso noturno.


Sei de falhas e rachaduras

que revelam o outro lado,

Sei de atos suspensos e desistência

que machucam o coração,

Sei de tantas e tantos que amaram

mas falharam em explicar,

Sei de mãos que arrancaram sentimentos

parcos, sem correspondência.


Sei de bastardos que choraram menos

a ausência de um pai,

Sei de poentes que ainda foram belos

sem o casal apaixonado,

Sei de amores que floresceram e procriaram

sem a presença do desejo,

Sei de veredas e sentimentos eternos

pulsantes, como a saudade.



_Fabrício de Queiroz Venâncio



5 Comentários:

Rafiki Papio disse...

Já eu não sei de muita coisa, mas sei mais que o nada qual me envolve. Sei algo sobre a noite e as lembranças, sei algo sobre o sentimento e o travesseiro.
Sei o que é controlar coração e o que é deixá-lo ser controlador..
Sei também sobre a insônia, o pensamento nunca dorme..

Sim eu sei da saudade, da água salgada do mar que deixa assim os navegantes..

Anônimo disse...

rapaaazz, fabricio... eu sei de pouca coisa, mas esse poema veio a calhar na hora certa... num momento de saudade de algo que acabou de me deixar sem q eu ao menos esperasse , que não vai fazer diferença na vida de ninguem exceto tres ou quatro pessoas que como eu, com tempo vao ter so uma lembrança. e ainda assim sua ausencia se faz sentir como se houvesse um oco na casa, no meu coração; mesmo que a casa esteja de pé e meu coração, batendo.

Sobre ontem, hoje e amanhã disse...

Lindo isso, meu caro. A complexidade da saudade pode ser representada pela própria incoerência que possui seu significado entre as mais diversas línguas. Escrever sobre ela pode ajudar em momentos assim.

Acalentador foi seu post, já que estou nessa fase, de enconstar a cabeça no travesseiro e perceber esse sentimento me atravessar do riso ao choro.

am abs

Sobre ontem, hoje e amanhã disse...

Oi Fabrício. Obrigado pela resposta. Concordo com vo, sobre a questão do anonimato. No entanto, no momento considero falta de respeito com a rosa publicizar as identidades. Por ela, não por mim. Me mostrando também a denunciaria, e por enquanto pode não ser a melhor coisa.

Mas obrigado.

Um abs

Max da Fonseca, disse...

De fato, você é bem sabido. Mas, em matéria de saudade, amigo, eu dou aula.
Uma boa poesia, mas que merecia um final mais revelador.

Te amo, cara.

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