segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Sob sombras curvadas no chão

Retirantes - Cândido Portinari


"E olha que o sertão é o mundo"



Sob sombras curvadas no chão

Eu vejo esqueletos em fôrma de gente;
e Vejo, tão precisamente quanto a fome;
o pé de gangorra que martiriza o doente:
Não há sonetos que cantem à sua colheita.

Não há estrelas que presenciem a cena
desta tosse seca que sacode pulmões;
os olhos tristes são poços fundos
vazios, vazios, a pedir água:
pinga na testa a resposta esquartejada,
seca o sertão esturricado na mão.

Seca a nascente do rio em bolor,
a terra elimina seu último transpiro;
os gravetos varrem o chão
levantando uma poeira que demora a sentar:
espinhaço curvado ao chão,
boca vermelha do barro.

E a dor sempre a dor a cantar amassando o sangue que agora começa a pingar
Grita a voz escassa dentro do pau oco, gritam os dedos curvados a marejar o chão.


_Fabrício de Queiroz Venâncio & Thiers R.

3 Comentários:

Georgio Rios disse...

Meu velho que bom que esteve por lá em meu blog, e aqui vejo que a boa recepção e a boa poesia estão me alta.Parabéns e estarei por aqui!!!!

Anônimo disse...

E eu achava que essa dor não poderia ser descrita tão detalhadamente...

Muito forte, e belo esse poema!

Abs!

Anônimo disse...
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