terça-feira, 18 de novembro de 2008

Matilha

Os Mortos - Orozco


Achando que somos muita coisa perdemos o compasso do que poderíamos ser, choramos numa latrina até a água descer. Tanto muito estranho esta hierarquia toda, estas coisas que prevemos que poderiam ser melhores... Mas, como chorar pelo que não aconteceu? Poderia realmente ser melhor?

Saímos da sociedade da informação para a sociedade da escolha: não é melhor o mais bem informado, pois informação pode ser encontrada. É melhor o que sabe selecionar o que encontra, sabe ser filtro. Mas os filtros são fabricados e há muito existe um problema proposital (veja, causado) em nossas máquinas.

O universo parece ser medíocre perto de alguns egos e é medíocre perto do que podemos ser, mas nunca somos. E, pensamos que somos quando na verdade só fazemos nos submeter. Não vamos pedir ao homem que tenha idéias, é pedir demais. Somente uma opinião espontânea seria digna de vigorosos aplausos e aclamações de "milagre".

Não vamos exigir demais dos homens.



Matilha


O cão cai sempre na esperteza.

no deslize das patas raspadas,

com aquelas unhas pontudas,

os petizes algozes,

ou arengas desmedidas.

Rói as unhas dos companheiros,

cheira o rabo da bicharada.


Mas é o cão companheiro,

felino intermediário,

(pois digo sim)

se não tem a astúcia do pequeno guerreiro,

coragem em iniciar o cerco,

como faz, todo gato,

tem a valentia do cargueiro

desmedida honra,

fixa, como substância volátil.


Pois é todo cão maleável.

(e veja, não tenho contradição)

lascivo, gaiato, antipático,

ganhador de troféus tantos,

faz entornos,

senta, levanta, deita

até rola,

por um bom osso.


Assim é o cão,

treinado com biscoitos,

aquietado por carinhos,

mas leva a tapa, quando necessário;

até te olha diferente,

pois toda espécie,

como já mencionado,

carrega um orgulho mercenário.


A disciplina do cão é de todo invejável.

Conhece seus limites,

todos os espinhos dos teus passos,

sabe quando morder,

onde urinar e defecar,

só não sabe quando parar de latir,

o animal alvoroçado.


Pois que todo cão alfabetizado,

tem o poder de chamar a reunião

e, em meio ao ladrar da multidão,

proclamar, mediante platéia afoita,

ser ele, o cão,

animal de insubstituível superstição.



_Fabrício de Queiroz Venâncio


6 Comentários:

Rafiki Papio disse...

Sobre cães, eu prefiro o desconfiar do felino astuto.
Sobre homens, sim, não vamos exigir demais...

Anônimo disse...

eu conheço esse, mas acho ele, hmmm, digamos metódico? não sei, é como se faltasse alguma coisa nele, não sei explicar ainda, vou ficar lendo e lendo, daí eu encontro a resposta.

Paula Barros disse...

Fabricio, sempre soube que tenho alguns preconceitos e agora me vi tomada por um deles. Vim ler seu blog por causa do seu comentário no blog de Raiza. Quando vi 21 anos quase volto. Mas entrei.

Fiquei surpreendida com o que li. Depois uma olhada rápida em vários post, nas imagens. E diante do que se passou comigo, não consigo comentar o que li. Voltarei.

Gostei demais.

abraços

Anônimo disse...

Olá, fabrício,

gostei desse cantinho aqui...

obrigada pela visita! volte sempre.

Estarei sempre por aqui...

bjos

p.s. te linkei visse?

Vivian disse...

...taí uma prova de que
o espírito não tem idade.

um menino de 21 anos
com a cabeça de 200 e tantos
em tamanha lucidez.

amei encontrar tanta inteligencia
visitando meu cantinho.

bjus, procê!

Paula Barros disse...

"Mas, como chorar pelo que não aconteceu? Poderia realmente ser melhor?"

Nunca saberemos. Tento ter consciência das minhas escolhas e assumir o que venha acontecer. Mas não é fácil.

abraços

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