domingo, 14 de dezembro de 2008

Sobre dúvidas e abandonos

A Fonte - Jean Auguste Dominique Ingres


Quem pode fazer versos? Acho que qualquer pessoa com disposição para arriscar ou qualquer uma que somente sinta-se bem em conversar com si. Troque o si por uma folha de papel e veja no que dá. Acredito que o mais importante em qualquer poema é motivar sentimentos, cutucá-los para que eles respondam: "olha, eu existo".

Mas o conflito é inerente, principalmente depois de leituras e leituras. Mas defendo que nada deve fazer com que nos livremos do bom companheiro que é o papel. Podemos parar de escrever, perder nossa fonte de inspiração; mas um apreciador da poesia jamais perderá a sensibilidade que lhe é inerente.

Lucas Matos é meu amigo e um poeta. Espero que esta imagem não o ofenda: sei que vai entender. Por sinal, recomendo a leitura do seu blog, já que me considero pequeno perto do poder dos seus versos.



Sobre dúvidas e abandonos

Amigo, deixei as letras
os papéis e as canetas.
Deixei as idéias na cabeça
os versos soltos
e os sentimentos aqui dentro.
O que farei agora?

Amigo, não confie nas palavras
nem no silêncio destas garras.
Recupera as tuas armas
e leva um cesto de captura contigo,
pois solto não deve ficar um contento.
Mas repito: não confia.

Amigo, estou velho demais
passou-me o tempo de poeta,
já atingi as minhas metas.
Aquieta, já basta,
não escreverei jamais.
Obrigado, deixa-me morrer agora.

Amigo, lembra que as idéias não têm idade,
que as metas duram tanto quanto a vida;
mas parece que persiste na canção maldita.
Você vegeta, nada cria,
já não me resta piedade.
Mas insisto: não confia.

Mas abandonei as rimas
os sonetos, as estrofes:
não tenho mais inspiração.
Levaram-me tudo, inclusive o perfume
e o ciúme e a paixão...
Que farei então?

Mas lembra-te que a poesia é um trabalho,
lembra do teu suor
e de como, salgado, ainda tecia.
Pensa que nunca precisou de fragrâncias
e ainda assim, poeta, existia...
Mas persisto: não confia.


_Lucas Matos & Fabrício de Queiroz Venâncio

11 Comentários:

Paula Barros disse...

Achei lindo, emocionante. É deixar pulsar, sentir o borbulhar dentro de si. Cada um da sua forma, dando forma.

abraços

Rafiki Papio disse...

Versos também são cartas?Eu só tenho conversas lúcidas com minha loucura e com mais ninguém, por isso mal sei o que são versos, faço por exclusão, se não é de prosa, é verso, mas ora, não estariam proseando vocês?

Bruna Rocha disse...

Quem pode fazer versos? Acho que qualquer pessoa com disposição para arriscar ou qualquer uma que somente sinta-se bem em conversar com si. Troque o si por uma folha de papel e veja no que dá.

ISSO FOI INCRÍVEL.

bom, quanto ao poema, se vc habita esses dois amigos dentro de ti, então está explicado o brilhantismo dos sesu textos. Um sábio e um apaixonado. A paixão dá o condeúdo do poema, a sabedoria a forma. Agora está explicado o teu talento, vc é um poeta completo.

Max da Fonseca, disse...

Meus amigos; meus amores!

mestres

-sempre aprendendo a viver com vocês. Salve a sabedoria!
não confia! não confia!

Paula Barros disse...

Oi, gosto de receber suas visitas, sempre atenciosas e inspiradas.

Agora tenho Lucas nas minhas leituras. Obrigada pela indicação tão sensível, que me desportou a vontade de conhecer as obras primas de Lucas.

abraços

Anônimo disse...

Obrigado pela visita, Fabrício e pelo comentário. Quanto à sua opinião aceito-a e ficou registada na minha memória! Quanto à cor... com todo o respeito por sua opinião, ela não visa chamar a atenção para o poema em si mesmo, unquanto poema, mas servindo para transmitir, também ela, um sentimento que eu atribuo, muito pessoalmente, às cores. Envarnado de raiva, amarelo de tristeza, cinzento de...cinzento de vida, etc, etc...
Tudo, na poesia, deve ter mais uma mensagem subentendida, com o "poético" objectivo de se tornar um pouco mais...subjectivo!

Gostei do que faz com seu blog. Voltarei com mais tempo para o desbravar.
1 abrço

Alisson da Hora disse...

Caro Fabrício, obrigado pela visita e pelos elogios...

gostei da citação do Eliot ;)

Anônimo disse...

poderá clicar no "wallpaper" correspondente ao poema no sentido de o ampliar. Espero que goste!

Renata Braga disse...

Oi Fabricio... gostei de sua visita.... e mais ainda de seus poemas e textos, que me fizeram especialmente hoje pensar em algumas coisas... gostei muito daqui...

Voltarei mais vezes, e epsero que tu também volte.

Beijosssss

KrystalDiVerso disse...

Embrulhou a solidariedade
Numa caixa de promessas florescentes,
Com lágrimas sujas de indigentes,
E enfeitou o evento com ventos de vaidade,
Polvilhados de reconhecida notoriedade,
Pela carteira competente.
Faltava o Laço!...
Mas esse laço, nó cego de carinho,
Era a prenda que da caixa ria baixinho!

...

Tenha um excelente fim de semana

Escolha entre...bjs e abrçs

Marta disse...

Fabricio =D

Peço desculpa por apenas agora responder às suas palavras!

De facto, temos diferentes perspectivas de colorir a realidade: o que não significa que a vejamos de maneira errada!

Eu pinto cores, não me aterroriza nenhuma delas, aliás o medo do amarelo, do rosa ou do azul aconchega-nos na dor do preto e do cinzento e faz-nos esquecer que se vivemos é para lutarmos pelos nossos valores!

Está óbvio que eu não vejo a vida como um mar de rosas, simples e delicado como o sorriso de uma criança, mas de que me vale vê-la negra e opaca?

Afinal, se escrevo alguma coisa é para me sentir inocente e livre do pesadelo

Ser obscura ou fria não me faz sorrir: porque para conseguir sentir-me feliz, preciso de fugir a este mundo e sentir-me criança: a criança que já fui!!

Gostei das palavras que me deixou,e espero trocar impressoes mais vezes consigo!!

Um beijo enternecido e um desejo de um 2009 radiante, com caminhos desconhecido e desprovidos de medos e angústias, somente sonhos e ideais pelos quais lutamos e vivemos!

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